Samba Enredo
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Autores: André Diniz, Bocão, Carlinhos, Pingüim, Dedé, Eduardo, Dinny, Miro e Carlinhos
Intérprete: Tinga
É mais que um samba o que se criou
É um hino ao povo trabalhador
A louvação a nossa gente
Vista indolente, pelos olhos da ambição
Nativa cor que foi presente
Pintou as dores da escravidão
A resistência mudou de cor e renasceu
Com a luta e a fé do negro
E ao quilombo ascendeu
Nosso ideal de liberdade
Cansado de ter nos ombros
Descanso do senhor, ecoou...
Que o brasileiro tem o seu valor!
Meu deus ajude o trabalhador!
Branca imigração cruzou o azul do mar
Em nosso campo ver a vida melhorar
Voz de quem resistiu, a Era Vargas ouviu
Consolidar nossas conquistas,
Em direitos trabalhistas,
Comemora quem tanto lutou
Tempo de industrialização,
Candangos, então, erguem Brasília
Sindicato consciente,
Terra para nossa gente cultivar democracia
Avante trabalhadores de Vila Isabel
Quem faz a hora não espera acontecer
Suor dessa gente, construiu esta nação
Verdadeiros filhos desta chão
Hoje é dia do trabalhador
Que conquistou o seu lugar
E vai nossa Vila, fazendo história
Pra luta do povo eternizarSinopse do Enredo
O Brasil, outrora conhecido como Pindorama, foi o paraíso descoberto nos trópicos, terra de fartura, habitada pelos índios. Na chegada, os portugueses puseram os nativos a trabalhar, trocando madeira vermelha por objetos desconhecidos, que fizeram brilhar aqueles olhos ingênuos.
Não satisfeitos, os portugueses resolveram investir em outra atividade: o cultivo da cana-de-açúcar. O indígena vira escravo do trabalho e de uma fé imposta,, que ora lhe protege, ora não. O índio se rebela! Utilizaram até de rituais mágicos aos quais os colonos chamaram de "Santidades Nativas" como forma de resistência. Era essa uma das formas de lutar contra a exploração.
Havia aqueles que por seu interesse em traficar negros da África, no lugar de escravizar os índios, criaram o mito de que esses eram preguiçosos, indolentes. Idéia que permaneceu no imaginário popular até os dias de hoje. Os africanos resistiram ao trabalho forçado, trabalho que ajudou a construir as riquezes dessa terra. Embora seus senhores acreditassem que negro só trabalha debaixo da chibata. Seu espírito guerreiro e suas mais variadas formas de fé, o faz lutar contra os maus tratos. A exemplo dos Malês, que recorrem a Alá para fortalecer seu levante. Outra forma de rebeldia estava na formação de fortalezas, ou quilombos, onde o trabalho não se regia no açoite.
A classe dominante, que acusava índios e negros de preguiçosos, também era acometida do que diziam ser pecado. Acostumados a acreditar que o trabalho não é coisa pra gente de bem. Isso é coisa para pretos... Diziam.
Aquarelas e gravurasdo perído joanino retratavam o cotidiano de mucamas, negros vendedores de flores, fruta,aves, etc. Os brancos eram transportados em redes; liteiras;cadeirinhas. Por muito tempo, o serviço braçal continuaria indigno e somente restrito às classes mais baixas, cujo suor garantiria o bom descanso das elites.
A partir da abertura dos portos às nações amigas, começaram a chegar os primeiros imigrantes. A imigração em massa foi a forma encontrada para substituir o trabalhador negro escravo. Na lavoura de café, trabalham em um regime semi-livre. Na cidade, parte deles ocupa espaço na indústria. A expressão "hoje é dia de branco", que se refere a um dia de trabalho, surgiu da imagem construída do proletário imigrante, que de forma errada seria supostamente mais dedicado do que o brasileiro.
Os direitos dos trabalhadores, no início do século XX, estavam longe de serem reconhecidos. Movimentos grevistas eram duramente reprimidos. O operário se rebela! Anarquistas e socialistas, que provinham de grupos italianos e espanhóis, organizam movimentos de luta por melhores condições de trabalho.
Enquanto isso no campo, onde por longo tempo predominaram as fazendas de monocultura, o pequeno sitiante ficou a margem. Ali, predominou o trabalho escravo e, mais tarde, o de imigrantes europeus e orientais, deixando o caboclo em segundo plano. Acusado de provocar as queimadas, a "velha praga", nosso roceiro foi comparado ao Urupê, um fungo parasita. Personificado na figura do Jeca Tatu, o caipira foi descrito como um ser pouco afeito ao trabalho. Mas, a ciência da época revelou os males do Brasil quais são. negligência das autoridades era culpada pelo abandono da população rural.
Os primeiros movimentos dos trabalhadores urbanos foram passos importantes na realização de muitas conquistas. Ventos sopram do sul e trazem ao poder Vargas, que chamou para si a responsabilidade de criar os direitos trabalhistas, reunidos na CLT, direitos esses conquistados por anos de luta dos trabalhadores. Getúlio se tornou ainda mais popular com o programa de rádio a "Hora do Brasil" e nas comemorações de primeiro de maio (dia do trabalhador). Getúlio cria o trabalhismo, que surge como um braço político-partidário em resposta aos anseios do povo trabalhador.
Nos anos 30 e 40, fez-se a travessia do mundo rural com a migração, sobretudo nordestina, para o urbano e industrial, do centro sul. Desenvolvimento, progresso, palavras de ordem que seguiram seu curso nos dourados anos JK. Em seu programa de metas (50 anos em 5), merece destaque o incentivo à indústria automobilística e a criação de Brasília, cuja construção deveu-se principalmente à força dos chamados candangos, trabalhadores migrantes em sua maioria nordestinos.
No início dos anos sessenta, forças intersindicais reivindicaram melhoria das condições de trabalho. Esse movimento conquistou o 13º salário para os trabalhadores urbanos. Era também o tempo das reformas de base. E, os trabalhadores rurais exigiam reforma agrária. Com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, muitas ligas camponesas se transformaram em sindicatos rurais.
Em 1964, deu-se início aos "anos de chumbo". Os trabalhadores ainda assim lutaram por melhores condições salariais e pela liberdade de expressão. Maior exemplo dessa rebeldia foi a greve oprária do ABCD paulista no ano de 1978. Os metalúrgicos se rebelam, e cruzam os braços. Sua luta abre caminho para a redemocratização do país.
E, hoje revelamos o grande protagonista dessa história feita de lutas e conquistas, história que tem um começo, mas que certamente não tem um fim, já que as lutas continuam. O Brasil conquista seu espaço no mercado internacional, fruto do trabalho de homens e mulheres, que com sua dedicação e determinação, constroem esse imenso país.
Avante trabalhadores do meu Brasil, uni-vos, nesse festa!!! Avante Vila Isabel!!! Alegria e paz!!! Que o rufar dos seus tambores sejam alavancas incentivadoras para as futuras conquistas e vitórias do povo brasileiro!!!
Alex de Souza (carnavalesco)
Alex Varela (historiador)
Revisão de Texto: Martinho da Vila